"Palavras gastam-se como pedras de rio: mudam de forma e significado, de lugar, algumas desaparecem, vão ser lama de leito das águas. Podem até reaparecer renovadas mais adiante.
Felicidade é uma delas.
Banalizou-se porque vivemos numa época de vulgarização de grandes emoções e desejos, tudo fast food, prêt-à-porter, pronto para o microondas, fácil e rápido... e tantas vezes anêmico.
Se por encantamento e profissão escolhi o território das palavras, sei o quanto algumas se contaminam pelo uso e se tornam agressivas ou contraditórias, têm ares de ironia ou de ingenuidade. Tornam-se confusas e ineficientes, prestam-se a mal-entendidos ou clareiam mais o significado.
Conheço um pouco o modo como se apoderam das nossas experiências e lhes dão rostos, roupas, ares que nem tínhamos imaginado.
Gosto das coisas – pessoas e palavras – desconcertantes.
Seus contornos imprecisos permitem que a gente exerça o direito de refletir e de criar em cima delas.”
Lya Luft, em Perdas & Ganhos
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E suas palavras, quais são?