sábado, 19 de setembro de 2009

Modernos exílios

Canto do regresso à Pátria
Minha terra tem palmares
onde gorgeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

Oswald de Andrade




Minha terra tem macieiras da California
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunho a Gioconda.

Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Murilo Mendes


Oswald de Andrade, 1925, In Pau-Brasil e Murilo Mendes, In Poemas, 1930.
Entre outras paródias já produzidas a partir da Canção do Exílio de Gonçalves Dias, os modernistas Oswald de Andrade e Murilo Mendes revisitaram o canto e, com irreverência, lançam novo olhar à terra.

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