E quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico. (...) Ainda bem que o que vou escrever já deve estar na certa de algum modo escrito em mim. Tenho é que me copiar com uma delicadeza de borboleta branca. (...) O fato é que tenho nas minhas mãos um destino e no entanto não me sinto com o poder de livremente inventar: sigo uma oculta linha fatal. Sou obrigado a procurar uma verdade que me ultrapssa. (...) eu que quero sentir o sopro do meu além. Para ser mais do que eu, pois pouco sou. Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo pois sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só queria ter o que eu tivesse sido e não fui.
Clarice Lispector, em A Hora da Estrela
Lindo, muito lindo mesmo!
ResponderExcluirPrinciplamente o fechamento: "E agora só queria ter o que eu tivesse sido e não fui." Lembra Manuel Bandeira!
Bjoks
Oi, Debby, eu também acho lindo!
ResponderExcluirE sabe que também me lembra poemas do Cancioneiro de Fernando Pessoa? Aliás, são três autores fantásticos, não é verdade?
Bjks, querida.
Obrigada pela visita!
;*
Lindo!
ResponderExcluirVenho agradecer a visita ao meu cantinho!
Bjs
Obrigada, Alda.
ResponderExcluirImagina, não tem o que agradecer.
Beijo! ;*